‘Se não morrer desse vírus, morro de fome’, o triste depoimento de um idoso vendedor ambulante

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Um carismático senhor de 65 anos é conhecido por todos que passam pela Unidade de Pronto Atendimento da Lapa, na Zona Oeste de São Paulo, por conta de seu velho jargão: “Quer sorvete, meu filho?”, questiona para os transeuntes. Há pelo menos 30 anos ele trabalha no estacionamento do hospital vendendo sorvetes.

Por conta da idade, José Maria faz parte do grupo de risco do novo coronavírus. Questionado se não teme contrair a Covid-19, sobretudo por interagir diariamente com muitas pessoas, principalmente na porta de um hospital, o senhor conta que não restam muitas opções para ele, pois este é o meio que ele tem para sobreviver. “O que você quer que eu faça? Se não morrer desse vírus, morro de fome. Não posso parar de trabalhar”, relatou em entrevista para o UOL.

Não bastasse o contato diário com pessoas no local de trabalho, José Maria precisa pegar quatro ônibus por dia para se deslocar: ele embarca às 8h em Perus, Zona Norte de São Paulo, e retorna para a sua casa aproximadamente às 22h.

As mudanças já foram verificadas na rotina de José Maria por causa do coronavírus. Ele conta que os ônibus estão bem mais vazios nestes dias, o que lhe facilita, tendo em vista que não é nada fácil transportar o seu carrinho de picolés com a condução lotada como de costume.

A rotina no trabalho da venda de picolés acontece de segunda-feira aos sábados, sendo que no domingo ele vende temperos baianos no bairro onde mora. Na época do verão, José Maria conta que o comércio lhe rende aproximadamente R$ 400 por mês. Com a pandemia por causa do coronavírus, sofreu uma enorme queda, com o fraco movimento nos hospitais.

Vindo do Ceará para São Paulo em 1976, nunca mais voltou para a cidade natal. Quando tinha apenas sete anos de idade, ele perdeu a mãe, vítima de um câncer, e desde então tudo perdeu a graça, conforme relata. Ele sofre ainda de duas lesões no joelho, além de esporão nos dois calcanhares, o que lhe impediu seguir no ofício anterior de pedreiro. 

Para caminhar, ele investiu R$ 65 reais em um chinelo de borracha, ao qual ele acoplou um saltinho de plástico, na tentativa de amenizar a dor. “A gente vai dando um jeito, né, só não pode parar”, disse José Maria.