Idosa corre desesperada para salvar marido e irmão em Brumadinho e desfecho emociona

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Vera Souza Araújo Vilaça, de 64 anos, tem uma das histórias mais incríveis que chega de Brumadinho, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais, onde uma barragem da Vale rompeu e devastou parte do município.

Por volta de 12h30 da sexta-feira (25), data da tragédia, a idosa chegou a casa de Geraldo, um senhor de 90 anos, que caminha com a ajuda de um andador. A missão ali era nobre. Ela foi levar o almoço do senhor. Atitude que ela tem tomado nos últimos dois anos. Cerca de 500 metros separam as duas casas.

De repente, surgiu um rapaz falando sobre a tragédia. Rapidamente, ele tirou o idoso de 90 anos dali. Neste momento, Vera tinha duas opções: fugir e tentar se salvar ou voltar para casa para avisar o marido, que almoçava, e o irmão, que tirava um cochilo.

Para voltar em casa, localizado em uma área mais baixa do que onde ela estava, a idosa teria que fazer o caminho contrário ao recomendado em tragédias desse tipo: descer ao invés de subir. Ela não hesitou e saiu correndo para avisar o marido e o irmão.

“Passei debaixo de uma cerca de arame farpado, corri por uma pinguela de quatro metros (uma ponte de tábua que atravessa um corpo d’água, com um corrimão de bambu, por onde a população costumava passar devagar e com cuidado para não cair), e corri até chegar em casa. Eu não sei de onde veio essa minha força. Meus nervos da perna estão todos doloridos até agora”, contou Vera, em entrevista à BBC Brasil.

A idosa de 64 anos se aposentou por invalidez devido a uma trombose. Nos últimos três anos, ela quebrou a perna três vezes. Nada disso a impediu de correr para salvar o marido e o irmão. Ela conseguiu chegar em casa antes da avalanche. Aos gritos, acordou o irmão, Manuela Souza Araújo, de 57 anos. Depois, também aos gritos, avisou para o marido, Geraldo Carmo Vilaça, de 70 anos, que a barragem havia rompido.

“Ele estava sentado na mesa do almoço me esperando, quieto. Se eu não tivesse ido para lá (avisá-lo), a lama tinha pegado ele”, diz. Geraldo, seu marido, também comenta a situação dramática. “Foi o tempo de levantar e fugir. Nós tivemos 3 minutos. Não tinha mais tempo, a avalanche já estava há 100, 50 metros da casa da gente”, afirmou.

Vera correu por um lugar e o marido, que tentou ligar o carro, mas desistiu porque a chave se perdeu entre o estofado do veículo, teve que ir por outro, uma região de mata fechada que termina em um ponto alto e seguro. Ele afirma que o som da lama chegando era assustador. “É um som de filme de terror”, afirma Vera.

Geraldo disse que correu como um menino de 17 anos. “Acho que é o instito de sobrevivência”, afirmou à BBC. Ele e a esposa se salvaram. Do alto, viram tudo o que construíram ser levado pela enxurrada.

O casal se salvou e seus vizinhos, também. Quando se reencontraram, faltava apenas uma pessoa: Manuel, o irmão de Vera. Ela e o marido tinham a expectativa que Manuel tivesse fugido por um outro caminho, mas até agora ele não apareceu. Possivelmente, está entre os desaparecidos. Vera já perdeu as esperanças de encontrar o irmão vivo.